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ANÁLISE

A potência e o legado de Marília Mendonça agora são eternos na história da música brasileira

Foto da cantora Marília Mendonça
Marília Mendonça deixou grande legado para a música brasileira (foto: Divulgação)

Este texto foi redigido com carinho, respeito e consideração pela memória de uma artista que fez todo o estado de Goiás permanecer triste por dias a fio. Por isso mesmo que não poderia ser publicado com pressa, na crista da onda de uma tragédia que todos preferiam que não tivesse acontecido, causando as mais diversas sensações em todos os goianos e brasileiros, em geral. O Brasil se despediu de um dos maiores talentos musicais dos últimos anos, se provando uma das lendas da música brasileira. Marília Mendonça distribuiu em mais de 10 anos suas músicas que revolucionaram um gênero extremamente marcado por duplas masculinas e seus sucessos sobre amor, enquanto ela se lançou como cantora e compositora solo, falando sobre traição, relacionamentos malsucedidos e seus parceiros.

Numa linha do tempo, a música sertaneja passava por um momento muito peculiar. No início da década passada, o sertanejo universitário dominou as paradas brasileiras e até as mundiais, criando uma tendência que fez o ritmo se tornar o favorito das rádios. Nesse período, uma onda de músicas com onomatopeias se tornou a chave de um sucesso que parecia fácil, mas não passava muito além disso.

As tendências estão aí para serem seguidas, porque de fato todos seguimos as tendências de moda, cultura, lazer, etc. Mas aqueles que são capazes de criar novas tendências, são realmente os influenciadores. Se tem algo que Marília fez, foi ser uma influência. A capacidade de unir as letras sinceras e fortes com melodias marcantes. O clímax que o público exige das músicas surgiam naturalmente das pontes e refrões inesquecíveis que a rainha da sofrência entregava.

Antes mesmo de se tornar a grande cantora, ali já habitava uma compositora que conseguiu emplacar grandes sucessos na voz de outros cantores masculinos que começaram a espelhar a visão feminina sobre seus papéis em relacionamentos. Tudo isso corroborou a estrada vitoriosa de Marília, que algum tempo depois começou a emocionar o Brasil com sua voz, cantando sobre suas experiências ou como gostaria que elas tivessem sido, sem filtro ou vontade de mascarar a realidade que enfrentou.

É impossível não citar que seu papel como filha e mãe foi determinante para que o público pudesse sentir ainda mais a verdade de alguém que poderia ser só mais um ídolo, mas se mostrava bem mais que isso. Era fácil perceber sua humanidade ao lado da mãe Ruth e do filho Léo, mas também com o carinho que tratava os fãs, com uma preocupação que nem sempre é usual para artistas tão grandes e fortes na indústria, sendo praticamente uma unanimidade.

Praticamente, porque o gênero enfrenta um bloqueio natural vindo daquele estereótipo de gênero praticado por homens, com falas e gestos que muitas vezes limitavam as mulheres aos papéis de esposa ou amante. Mas ela foi o motor dessa mudança que tornou o ritmo mais próximo de todas as tribos, até pessoas progressistas que o consideravam conservador. Isso sem forçar, sem pedir proximidade, sem fingir nada, nem quando errou e fez aquilo que pode parecer o básico, mas que foi um extremo exemplo para todos os colegas de como é possível reconhecer o erro e tentar repará-lo.

O que morreu não foi somente uma artista. Foi uma mulher, mãe, filha, lenda da música brasileira que rompeu padrões que diziam que uma mulher não faria sucesso sendo gorda ou que uma mulher cachaceira não se tornaria um exemplo. Os valores que uma mulher como Marília carrega são inestimáveis, que não são 2 quilos a mais ou 2 copos de cerveja que vão desmerecê-los. O que fica aqui é um legado que abriu portas, revolucionou um gênero musical e que deixa muita saudade. Você deixou muita saudade em todos os cantos, Marília.

Gabriel Bueno é publicitário de formação, atua no mercado desde 2013 nas áreas de criação, mídia e produção. Viciado em acompanhar música, sempre disposto a comentar premiações, álbuns, videoclipes e tudo que envolve o meio musical. É o autor da coluna Decifrando, publicada no TV Pop semanalmente. Siga o colunista no Twitter: @GabrielGBueno_. Leia aqui o histórico do colunista no site.

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