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LÍDER DE BILHETERIA NOS CINEMAS

Crítica: Jujutsu Kaisen 0 por quem nunca assistiu Jujutsu Kaisen

Jujutsu Kaisen 0 está disponível nos cinemas do Brasil e América Latina (foto: Divulgação)

Eu nunca assisti os 24 atuais episódios de Jujutsu Kaisen, mas mesmo assim, dei uma chance para Jujutsu Kaisen 0 tentar me convencer a assistir tudo de uma vez só. A adaptação do one-shot (mangá de capítulo único) de Akutami Gege tem a missão de contar o prelúdio dos capítulos regulares do anime para televisão lançado no ano passado.

Animado pelo estúdio MAPPA, o filme está sendo distribuído aos cinemas brasileiros pela parceria Crunchyroll-Funimation, agora pertencentes ao grupo Sony. De uns anos pra cá, a empresa vem fazendo um belo trabalho de aproximar os fãs brasileiros às obras do catálogo como fez há alguns anos com episódios da segunda temporada de Mob Psycho 100, timidamente levando fãs para uma sessão de cinema especial em São Paulo enquanto exibia o lançamento na TV aberta, pela Rede Brasil, e com Demon Slayer: Kimetsu no Yaiba – Mugen Train – O Filme, já experimentando um lançamento ainda tímido, mas já avançando para dentro de boa parte do território brasileiro.

Jujutsu Kaisen 0 tinha sua estreia prevista para 24 de março, mas sofreu um atraso e teve sua data remarcada para 28 de abril. No entanto, a espera valeu a pena; o lançamento por aqui foi mais ousado e está com uma divulgação forte pela Sony Pictures e pela Crunchyroll através das contas oficiais do serviço de streaming e do próprio anime. Ao mesmo tempo, enquanto despertado o interesse por parte de alguns exibidores em dedicar espaços para o filme tanto legendado quanto o dublado, o resultado apareceu cedo: “JJK” se tornou o número 1 de bilheteria desde a estreia. Hoje, o filme encontra-se na terceira posição, atrás de Animais Fantásticos – Os Segredos de Dumbledore e Sonic 2 – O Filme.

A vontade de assistir o anime apareceu de imediato ao sair da sessão. O filme leva uma experiência de terror leve ao espectador com referências a monstros e espíritos – não espere nada parecido com Junji Ito por aqui – e como um tradicional shounen, gasta boa parte de seu tempo com lutas.

Aqui, um parêntese: é impossível assistir o filme sem lembrar em algum momento de Naruto, que é talvez a maior referência “shounen de lutinha” que existe na comunidade. Eu sei, eu sei, é incomparável, mas as raízes são as mesmas e as sacadas humorísticas ajudam no vínculo; as semelhanças acabam por aqui. As curtas cenas de luta trazem animações brilhantes que saltam aos olhos – especialmente nos momentos embalados sob uma trilha sonora cantada entre os movimentos dos personagens. Nesse momento, havia encontrado um puro estado da arte.

Jujutsu Kaisen 0 não quer ser o tradicional filme de luta e cria uma narrativa onde um relacionamento passado influencia diretamente o desenvolvimento de Yuta Okkotsu, o protagonista. Ele segue uma fórmula manjada da indústria de animes – o pobre e fraco rapaz que precisa aprender a ser forte na marra e ganha uma vantagem para conseguir esse objetivo, além de procurar vencer através do amor; a vantagem, aqui, é o ultrapoderoso espírito de Rika Orimoto. 

Com uma batida relação afetuosa de “vamos nos casar quando crescer” com o protagonista no passado, o monstro acende um alerta de Satoru Gojo, o feiticeiro que, após a última parte do filme, arrisco dizer que deve ser o mais poderoso da história. 

Yuta Okkotsu e o espírito de Rika Orimoto (foto: Divulgação)

Gojo tem a missão de ser o tutor não só de Yuta como de Toge Inumaki, Maki Zenin e Panda, os companheiros de classe que também escoram-se em yōkais (seres sobrenaturais oriundos do folclore japonês). A tutela não é bem a palavra certa, diria que “jogar aos lobos” enquanto observa comportamentos é uma abordagem mais assertiva.

O antagonista é Suguru Geto, feiticeiro tão poderoso quanto os principais que tem a ambição de reunir milhares de maldições e que poderia aparecer mais. Seus objetivos ficam claros, mas ficou óbvio que o filme não era pra aproveitá-lo.

Falando como espectador, assisti o filme numa sessão em um cinema que contava com poltronas simuladoras de movimentos. A sincronia dos movimentos era perfeita nas cenas de ação e alguns gracejos aconteciam nas cenas mais paradas, se aproveitando de efeitos na tela para transmitir ao espectador as sensações de surpresa, tristeza, entre outras. Isso melhorou exponencialmente o filme para mim e trouxe muito mais imersão. Questionada pelo TV Pop antes da estreia sobre a disponibilidade em outras salas especiais, a Crunchyroll havia nos informado que o filme já contava com 1.500 salas confirmadas e seria exibido no formato IMAX nos EUA e Canadá. No Brasil, o longa está disponível em salas com simulador de movimento D-BOX, da rede Cinemark.

A adaptação brasileira também não peca na dublagem, mas talvez na mixagem de som. Em alguns momentos, a trilha sonora estava bem mais baixa do que os diálogos, mas não é possível afirmar se isso é uma falha da versão dublada ou se foi algo intencional.

Em relação a legendas, no audiovisual, há uma questão que envolve boas práticas ao adaptar traduções onde deve-se prezar pelo mínimo necessário que mantenha o contexto, mas isso não funciona com animes. Essa lógica acaba causando uma grande perda de informações para o espectador. A Crunchyroll tomou o cuidado de traduzir tudo que era necessário em tela através de legendas, sem qualquer perda de informação, algo que é louvável e que, de certa forma, já está no DNA da plataforma.

Jujutsu Kaisen 0 é clichê mas não é clichê, e isso torna-o um dos maiores acertos do gênero que entraram em cartaz nos cinemas. Ele vai agradar os fãs que já assistiram e alguém que não assistiu, trazendo fidelidade (ao pouco que li) da história original, boa trilha sonora, animações impressionantes e muitas relações emocionais.

O filme encontra-se em cartaz nos cinemas. Os 24 episódios do anime estão disponíveis na Crunchyroll, com dublagem em português ou legendas.

Caio Alexandre é entusiasta de cinema, exibição, animes e cultura pop em geral. Escreve desde 2008 sobre os mais variados assuntos, mas sempre assumiu a preferência pelo cinema e sua tecnologia embarcada. Autor convidado do TV Pop, fala sobre tudo que é tendência no universo da cultura pop. Converse com ele pelo Twitter, em @caioalexandre, ou envie um e-mail para [email protected]. Leia aqui o histórico do autor no site.

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