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ANÁLISE

A volta de Beyoncé já tem a sua atenção, mesmo contra a sua vontade

Foto da cantora Beyoncé
Anúncio de novo álbum de Beyoncé causou impacto imediato (foto: Divulgação)

Para fãs e artistas ao redor do mundo, a notícia de um novo álbum de Beyoncé rende tanta apreensão que é difícil mensurar o impacto. Mas quando chega a notícia e logo se percebe as milhares de pistas e o lançamento da primeira música acontece quase que instantaneamente, fica evidente que o movimento da Queen B é um só: ser notícia. Ela pode não se preocupar com o que a imprensa tem a dizer sobre sua vida, seus looks, sua relação com o marido, entre outras coisas, mas ela se preocupa em ser o assunto da roda de amigos que você faz parte, por exemplo. Pode parecer uma preocupação boba, mas é o que vai manter todo mundo ocupado por mais de um mês, até a chegada de seu novo álbum, Renaissance.

O que existe de fato é uma Bey vibrante, nostálgica e com muita vontade de se movimentar mais próxima à pista de dança do que o ambiente acadêmico. Uma coisa não anula a outra e é bem possível que mais um grande momento da música pop eletrônica aconteça pelas mãos dela, mas é óbvio como o trabalho de Beyoncé estava diretamente ligado aos discursos e movimentos progressistas, o que ampliou a visão artística e o alcance do seu trabalho.

Tanto aumentou que ela se tornou sinônimo de lenda após esse movimento. Estar presente nas discussões sociais fez seu trabalho alcançar outras pessoas, outros públicos e fazer parte efetiva da vida das pessoas. Isso foi e é muito importante para a carreira dela e nunca será desprezado. Mas é essencial que todos reconheçam, assim como ela, que a música vive de ciclos e precisa de seus ícones sempre em alerta.

O ciclo atual de Beyoncé é um reflexo do estudo muito acertado de alguém que domina a música de forma ampla. Desde 2012, diversos artistas passaram a brincar com a música eletrônica, mas não da forma como ela estava presente no mainstream naquele momento. As famosas “farofas” ficaram para trás justamente após um dos trabalhos mais potentes de Bey: o álbum homônimo que mudou tudo o que conhecíamos de estratégia musical à época.

Toda cantora do pop mainstream passou a buscar um “pop com propósito” e isso fez surgir muita música boa e muita gente tentando nesse meio tempo. A real é que a rota foi desviada por Beyoncé naquela época e agora ela resolveu seguir a rota que está mais a seu favor. A música eletrônica está sendo reintegrada ao mainstream aos poucos e agora passa para um estágio mais avançado. A era Disco pode estar naquele momento de saturação, mas vai dar voz à era House.

O que não dá para deixar de considerar é que o House e suas ramificações fazem parte do trabalho de diversos artistas, sendo até seus carro-chefe. Existe quem faça o trabalho de incorporar o House com mais peso dentro de outro gênero, como Azealia Banks, e quem faça um tributo pop com muita destreza, como Charli XCX. Não dá para desconsiderar o projeto de ninguém, pois todos são muito importantes para explicar como chegamos até aqui.

Na última década, o House foi sendo experimentado por artistas do mundo todo. Lembra da Kiesza? Hideaway foi um dos maiores hits europeus e mundiais de 2014, sendo um exemplo do experimento pop eletrônico em um momento de ascensão dos ritmos oitentistas. O que fica explícito é o crescimento dos produtores e compositores europeus desde então e suas capacidades de produzir tendências e misturas musicais deliciosas, praticamente irresistíveis, que embalaram as pistas de dança dos anos 90, mas que justificam esse acesso ao mainstream novamente agora, com uma visão diferente e macro de gigantes do mercado.

Chromatica foi um passo muito importante para vermos como funciona o House junto com a personalidade de uma artista muito marcante e é possível que vejamos a mesma coisa com o novo álbum de Beyoncé, que mesmo com gêneros diversos e mais eletrônicos, vai colocar sua assinatura em um projeto definitivamente muito importante para se reposicionar em um mercado que sobrevive às custas de viral e challenge de dança.

Exatamente por isso que a melhor e maior estratégia desse lançamento foi alcançada com sucesso e você, provavelmente, nem se tocou. Pode continuar a guerra de fandoms, a comparação eterna, o despeito de um lado ou do outro, Beyoncé continua no foco da conversa e é você o principal responsável por isso, mesmo sem saber. Pode se sentir vitorioso com qualquer resultado que a música tenha, apesar de nós sabermos que não se trata de qualquer resultado quando é com ela.

Gabriel Bueno é publicitário de formação, atua no mercado desde 2013 nas áreas de criação, mídia e produção. Viciado em acompanhar música, sempre disposto a comentar premiações, álbuns, videoclipes e tudo que envolve o meio musical. É o autor da coluna Decifrando, publicada no TV Pop e que analisa os principais momentos da indústria fonográfica. Siga o colunista no Twitter: @GabrielGBueno_. Leia aqui o histórico do colunista no site.

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