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Crítica: Mulher-Maravilha 1984 – o caminho para “Liga da Justiça de Zack Snyder” é tortuoso (com spoilers)

Gal Gadot continua excelente na pele de Diana (foto: Divulgação)
Gal Gadot continua excelente na pele de Diana (foto: Divulgação)

Mais uma vítima da pandemia de coronavírus, Mulher-Maravilha 1984 sofreu vários adiamentos e chegou aos cinemas após a fase de reabertura das salas pelo mundo. O filme estreou nos cinemas durante o natal e foi lançado simultaneamente no exterior pelo HBO Max, serviço de streaming que chega ao Brasil em junho. Trazendo uma ambientação bem anos 80 com uma visão diferenciada, o filme traz um vilão capaz de conceder desejos após “consumir uma pedra” e uma vilã felina promissora. Hoje, quero contar um pouco sobre o que me agradou e me decepcionou ao assistir o filme após a poeira baixar.

Mulher-Maravilha. (Imagem: Reprodução/Warner Bros. Pictures)

É bastante fácil me surpreender positivamente com grandes filmes esperados pelo público, mas não foi o caso com MM84, principalmente depois da expectativa gerada pelo primeiro filme. Gal Gadot continua espetacular, vivendo uma Mulher-Maravilha com paixão e entregando um papel de qualidade absoluta, mas basta passar o belo início mostrando a jovem Diana competindo em Themyscira para começar uma sequência de fatos bem… diferente.

Por um desejo realizado por Diana para a Pedra dos Desejos, Steve Trevor (Chris Pine) volta através de um corpo possuído de outra pessoa. Embora o processo inclua um terceiro e o casal tenha uma química muito boa, o retorno dele foi complexo. A direção de Patty Jenkins acerta ao preferir mostrar o personagem de Chris Pine encenando uma mentira, um ponto-chave do filme. Diana pouco se importa com o fato de que Steve está no corpo de outra pessoa, com outra vida, com outros objetivos e relacionamentos.

Do outro lado, temos Maxwell Lord (Pedro Pascal), que mais parecia o Gugu vem a ser o vilão do filme. Com uma atuação boa e simpatia por trás das intenções, ele sofre dos mesmos males de todo o resto dos personagens: um roteiro cheio de furos. Ao se tornar a Pedra dos Desejos, que é o centro das atenções do filme, ele ganha as propriedades do objeto: o poder de realizar desejos de qualquer um desde que abra mão de algo tão valioso quanto. A mecânica de funcionamento do artefato mágico é explorada de maneira pífia no decorrer dos atos, tendo Max Lord usando da artimanha de “se tornar a Pedra” para deter o poder para si e evitar que a heroína a recupere.

Apesar de surgirem desejos como a morte de alguém, incomoda bastante o fato de não surgir uma alma sequer que faça um desejo muito absurdo, como o fim do mundo, ou até algo mais pé no chão, como o retorno à normalidade após o caos instaurado pelos desejos de outrem.

Maxwell Lord e Barbara Minerva. (Imagem: Reprodução/Warner Bros. Pictures)

Barbara Minerva (Kristen Wiig), foi facilmente o peso mais insuportável do filme. Triste por não chamar a atenção como Diana, encontra a Pedra dos Desejos nos primeiros minutos do filme e, sem saber do que ela era capaz, pede para ser como a protagonista; o resultado foi uma troca de calça, uma maquiagem e toda a atenção disponível na cena seguinte. Outro furo de roteiro foi no momento em que ela tem um segundo desejo concedido, dessa vez pelas mãos do Max Lord, sendo que a Pedra teoricamente só concede um desejo por pessoa. Assim, não bastando a motivação tosca por trás da vilã de não querer perder o que conquistou com o desejo anterior, ela se tornou a Mulher-Leopardo, que mais se parecia uma personagem de Cats (2019).

Aliás, pouco foi comentado sobre as cenas finais, onde, por um milagre divino, Diana consegue fazer com que pessoas no mundo inteiro renunciem seus pedidos. É difícil acreditar numa coincidência dessa em um mundo onde alguém deseja a morte de outra pessoa; hipoteticamente falando, alguém que porventura venha a ter desejado uma cura de câncer renunciaria o pedido também?

Poster IMAX de Mulher-Maravilha 1984. (Imagem: Divulgação/Warner Bros. Pictures Brasil)

Mulher-Maravilha 1984 é balanceado em erros e acertos. A aparição do famoso avião invisível, apesar de vir de uma habilidade desconhecida desenvolvida do mais absoluto nada pela Mulher-Maravilha, trouxe um ar nostálgico com direito a uma cena de voo ao som de Adagio in D Minor, além do estonteante cenário anos 80 e da trilha sonora brilhante de Hans Zimmer.

Por ser formatado para telas IMAX, o filme se aproveita de cortes em 16:9 para dar 26% a mais de imagem na cena inicial e na cena final, e só — a cena do voo merecia esse cuidado. São poucas cenas de ação, é o desenvolvimento da personagem que quer carregar o filme. Apesar disso, nada vai me tirar da cabeça que é como ter assistido um remake de Todo Poderoso com um toque de O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro e uma personagem de Cats com efeitos especiais que conseguiram ser piores que a adaptação do musical.

Caio Alexandre é entusiasta de cinema, exibição, animes e cultura pop em geral. Escreve desde 2008 sobre os mais variados assuntos, mas sempre assumiu a preferência pelo cinema e sua tecnologia embarcada. Não dispensa um filme com um balde de pipoca e refrigerante com o boss no fim de semana. No TV Pop, fala sobre tudo que é tendência no universo da cultura pop. Converse com ele pelo Twitter, em @CaioAlexandre, ou envie um e-mail para [email protected]. Leia aqui o histórico do colunista no site.

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