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NOS CINEMAS

Crítica: Sing 2 – o teatro da concepção a execução, custe o que custar

Sing 2: novo filme estreou em cinemas brasileiros nesta quinta (6) (foto: Divulgação/Universal Pictures/Illumination)

A Illumination criou algumas das franquias mais amadas do cinema: Meu Malvado Favorito, Pets – A Vida Secreta dos Bichos e as adaptações do escritor e cartunista Dr. Seuss O Lorax – Em Busca da Trúfula Perdida e O Grinch. Com uma qualidade de animação impressionante e sábias decisões, conseguiram uma fórmula para o sucesso que lembra até a Disney.

Sua nova aposta em 2016 foi Sing – Quem Canta Seus Males Espanta. O show de talentos prometendo prêmios inexistentes para arrecadar fundos para restaurar a audiência de um teatro seguiu a fórmula e foi benquisto pela crítica e audiência. Tanto no país de origem quanto no Brasil, a Illumination e a Universal Pictures não economizaram no orçamento e demonstraram carinho na adaptação, trazendo um elenco magnífico para a dublagem, trazendo nomes como Sandy, Wanessa Camargo e Jullie enquanto na versão original, Tori Kelly, Jennifer Hudson e Seth MacFarlane estavam entre os principais.

Sing 2 é o longa que dá sequência à história e estreou na última quinta (6). Feito pela vertente francesa da Illumination, a Mac Guff, traz grande parte do elenco de volta (inclusive no Brasil), o filme é indescritível. Pessoalmente, não conseguia enxergar como o final bem amarrado do primeiro filme conseguiria render uma segunda história; o Teatro Moon, do coala Buster Moon, ocupa apenas os primeiros minutos do filme em um recap através de uma adaptação de Alice no País das Maravilhas para situar o espectador de que as coisas estão indo muito bem, obrigado. Até o flyer do prêmio de cem mil dólares adulterado por Dona Kiki que causou a discórdia do primeiro filme aparece em algumas cenas no escritório do teatro, onde tudo começou.

Elenco da versão original ao lado de seus respectivos personagens. (Imagem: Divulgação/Illumination)

Musicais são extremamente difíceis de serem adaptados para um público estrangeiro, principalmente utilizando músicas comerciais ao invés de canções originais. Foi assim com Sing e é assim com Sing 2, que recorre a técnicas como unir as vozes brasileiras com as americanas em uma mesma cena. Nas versões dubladas, há uma sensação de que o espectador perde muito se não entender o inglês das canções, frequentemente ligados aos diálogos no novo filme de forma direta.

Peca também a ausência de pelo menos uma canção adaptada para o nosso idioma, como aconteceu com a original Set It All Free, interpretada pela Scarlett Johansson e que ganhou uma excelente versão nacionalizada pela Wanessa Camargo, Sou Livre Enfim.

A Universal colaborou bastante providenciando a adaptação de tela com tudo em português, porém, o filme teria muito mais sentido se pelo menos os trechos de músicas fossem legendados. É bem provável que tenham esbarrado em questões contratuais ao licenciar as músicas, mas num filme onde tudo é embalado por hits de sucesso, é complicado.

Jimmy Crystal, durante a cena das audições (Imagem: Divulgação/Universal Pictures/Illumination)

Apesar dessas dificuldades, absolutamente nada conseguiu tirar o brilho nos meus olhos de ver um dos filmes mais esperados do ano tomando vida, trazendo personagens de volta e entregando releituras de cenas memoráveis como as cômicas audições do primeiro filme, agora com trechos de Taylor Swift, Billie Eilish, Drake, DNCE, entre outros. Dezenas de figurantes do primeiro filme aparecem em algumas cenas. Personagens marcantes como o quinteto j-pop de pandas vermelhos Q-Teez e o trio de coelhas das primeiras audições tem uma pontinha na sequência, além de Nana Noodleman, observando de longe o progresso de tudo.

O segundo filme mira muito mais alto, indo perfeitamente de encontro com a personalidade ambiciosa e, por que não, inconsequente do coala. Ao receber uma crítica fraca de uma caça-talentos, o protagonista não aceita que, mesmo com o sucesso estrondoso do teatro e suas apresentações, alguém diga que o espetáculo em si é “ruim”. O que ele decide? Ir para uma cidade inspirada em Las Vegas demonstrar o talento de sua trupe a um dos maiores nomes do entretenimento, Jimmy Crystal. Durante o filme, há alguns detalhes interessantes sobre a produção de uma peça teatral, dadas as suas proporções. Desde o figurino até gigantes telões de LED de dar inveja ao Silvio Santos e ao SBT, tudo é mostrado no decorrer do filme, trazendo uma imersão muito maior a quem está assistindo. A peça final é a cereja do bolo, onde o elenco brilha com força, especialmente as novas aparições: Lexa (e Halsey). Não foram raros os momentos onde me arrepiei no último ato com a demonstração do que o alto orçamento pode fazer.

A trilha sonora não podia ser nada menos do que um espetáculo à parte e une sucessos de época com o contemporâneo. Os primeiros segundos já são embalados pelo elenco cantando Prince em pleno Teatro Moon, mas o filme não economiza em contrastar épocas com versões de músicas de The Weeknd, Yeah Yeah Yeahs, Shawn Mendes e Camilla Cabello, Coldplay, Ariana Grande, Alicia Keys, Aretha Franklin e, claro, várias do U2.

“Claro”, porque um dos novos personagens introduzidos é Clay Calloway, interpretado originalmente por Bono Vox. Derivado dele, a canção-assinatura do filme é justamente de autoria do U2. Your Song Saved My Life fica para a despedida na última cena, enquanto Stuck In a Moment You Can’t Get Out Of, I Still Haven’t Found What I’m Looking For e Where the Streets Have No Name também marcam presença conforme o enredo se desenvolve. A falha do novo personagem é justamente a transição entre a voz bem carregada do personagem com o suave timbre do vocalista do U2, que não ficou natural — a adaptação brasileira optou por seguir a mesma linha na dublagem feita por Paulo Ricardo, do RPM.

O Brasil também marca presença com o tradicional funk. Em uma determinada cena de dança, somos surpreendidos com mais uma canção original, Sueltate, uma colaboração de Sam I, BIA e Jarina De Marco com Anitta. O clipe pode ser visto a seguir:

Mike (o camundongo artista de rua), nem sequer ganhou uma pontinha no novo longa, embora outros camundongos figurantes apareçam em determinados momentos. Das ruas, dessa vez, é a personagem Nooshy que rouba a cena.

A dublagem se manteve intacta do primeiro filme para cá e foi o principal carro-chefe da Universal para a divulgação da versão nacional, tendo apenas algumas substituições estratégicas como Big Daddy, onde Marcio Dondi deu lugar a Fábio Jr. Big Daddy é pai do Johnny, dublado pelo Fiuk; a ideia foi de ter a sinergia de pai e filho dentro e fora da animação.

Sing 2 não difere em nada dos sucessos da Illumination, entrega uma história excepcional e performances incríveis tanto musicalmente quanto emocionalmente. Embora focado no público infantil, esse é mais um daqueles casos onde há mensagens para os grandes e os pequenos, incluindo lições sobre pressão e expectativas.

Sing 2 está disponível nos cinemas.

Caio Alexandre é entusiasta de cinema, exibição, animes e cultura pop em geral. Escreve desde 2008 sobre os mais variados assuntos, mas sempre assumiu a preferência pelo cinema e sua tecnologia embarcada. Autor convidado do TV Pop, fala sobre tudo que é tendência no universo da cultura pop. Converse com ele pelo Twitter, em @caioalexandre, ou envie um e-mail para [email protected]. Leia aqui o histórico do autor no site.

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