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ANÁLISE

Tudo sobre a venda do SBT: ela é interessante para quem e por quê?

Foto do apresentador Silvio Santos, dono do SBT
Silvio Santos teria colocado o SBT a venda por R$ 1 bilhão (foto: Reprodução/SBT)

Nos últimos tempos, muito se tem falado sobre a provável venda do SBT. Valores foram estimados — na ordem de grandeza de R$ 1 bilhão –, e inclusive supostos compradores foram cogitados. Mas afinal de contas: para quem uma operação como a da emissora de Silvio Santos é interessante? E por quê? Antes de falar sobre possibilidades que giram ao redor da venda da empresa, é importante esclarecer os motivos e circunstâncias.

Mesmo com faturamento de aproximadamente R$ 1 bilhão, que tem andado de lado nos últimos anos sem grandes oscilações, o SBT não é uma operação interessante quando se olha a empresa de forma isolada. No mundo dos negócios, o ato de se avaliar o valor de uma empresa se chama valuation. No entanto, ao se fazer um valuation, especialistas consideram, além dos ativos (prédios, equipamentos, terrenos, etc…), a perspectiva para o futuro. Logo, de nada adianta o passado glamuroso, altos índices de audiência ou momentos que marcaram a infância do telespectador: se as projeções futuras são ruins, o valuation será baixo.

Em um mercado competitivo, em que a própria Globo tem sérias dificuldades para se posicionar e onde os concorrentes deixam de ser velhas famílias conhecidas (como os Marinho, Saad ou Edir Macedo) e passaram a ser players internacionais, são baixas as chances do canal voltar a prosperar como no passado. Mas isso não significa que a emissora vá deixar de existir — muito pelo contrário, existirá mas em um tamanho menor.

Silvio Santos sabe de tudo isso. Assim como sabe que o SBT, como objeto de herança, terá seu poder cobiçado pelas filhas — o que é natural. Quem dará a palavra final, que hoje é dada por ele?

Joia da Coroa: o CDT

Em um primeiro momento, o SBT pode abrir mão de alguns ativos — ou ao menos alugá-los. O CDT, o Centro de Televisão da Anhanguera, inaugurado em 1996, é subaproveitado: com uma estrutura horizontal, jardins e amplos espaços de estacionamento, o local comportaria muito mais produção que atualmente.

Basta analisar a grade de programação do SBT, que é entupida de infantis, novelas e programas que não exigem grandes cenários, como o Primeiro Impacto, Bom dia & Cia e Casos de Família. Caso a emissora decidisse migrar para um espaço menor dentro de São Paulo e deslocar alguns programas para produtoras ou estúdios externos, como Record fez e a Band começou a fazer, o telespectador não sentiria diferença alguma.

Além do mais, o SBT tem uma localização cobiçada: ao lado de uma rodovia duplicada, antes de São Paulo e próximo do Rodoanel, o espaço do CDT é um sonho para qualquer centro de distribuição que precisasse armazenar ou escoar a produção dentro e fora do Brasil (para o Porto de Santos, por exemplo, por meio do Rodoanel).

Caso a emissora não se interessasse na venda, a possibilidade de locação seria bastante interessante. Netflix, Amazon e HBO são apenas algumas plataformas de conteúdo que querem investir no Brasil — porém não têm interesse em ter estúdios próprios, já que as produções são feitas por produtoras. Para conseguirem absorver essa nova demanda, a locação de estúdios já existentes, equipados, com pé direito alto e estruturados em um complexo poderia ser uma forma interessante de fazer dinheiro. À Amazon, o CDT inteiro poderia ser interessante — já que poderia ser fatiado entre um Centro de Distribuição e espaço para ceder às produtoras que irão fazer suas séries e novelas (deduzindo do valor de aquisição destes produtos a cessão do espaço).

Venda da emissora

Como já dito, o SBT é uma emissora com baixo potencial de rentabilização a longo prazo — ainda mais se comparado a um portfólio imenso de investimentos que existe hoje em dia, como fintechs, agtechs e healthtechs, que buscam resolver dores com por meio de soluções digitais e facilmente escaláveis.

O investidor que tiver interesse na emissora provavelmente o terá como operação secundária e necessária para abastecer outros negócios — estes sim mais relevantes financeiramente.

Por que não um banco ou varejista?

Apenas no segundo trimestre de 2021, o Itaú teve lucro de R$ 7,5 bilhões. Ou seja, em 25% do ano, o banco arrecadou de lucro um valor possível de comprar sete ‘SBTs’ (assumindo a proposta de R$ 1 bilhão como válida).

Para bancos de varejo como o Itaú, uma operação como o SBT poderia ser interessante: a partir da livre inserção de anúncios, branded content (o famoso informe publicitário) e demais campanhas geraria receita ao banco. Cartões como o Hipercard, que faz parte do conglomerado do Itaú, por exemplo, poderiam ingressar nas classes CDE por meio da venda de cartões e serviços atrelados como seguros ou mesmo juros por atraso, empréstimo ou financiamento, caso tivesse presença recorrente em um veículo que fala com o seu público diretamente.

Além disso, haveria uma vantagem competitiva entre o investidor e seus concorrentes: o novo dono da emissora poderia blindá-la a não aceitar anúncios de seus rivais, que perderiam uma oportunidade de mídia que atinge milhões de brasileiros. A mesma premissa poderia ser aplicada para varejistas, como Magalu, B2W (que abarca Americanas, Submarino e Shoptime), Via (detentora do Ponto, Casas Bahia e Extra).

A geração de resultado poderia, inclusive, fazer com que certos prejuízos fossem tolerados — afinal, a receita trazida os compensaria.

O que se sabe?

Ideias de criação de modelos de negócio qualquer um pode ter. Não existe vidência, ainda que com conhecimento se possa mitigar riscos e ter maior assertividade no que vem no futuro. Mas o que se sabe é que o modelo monárquico que existe hoje no SBT, onde as decisões macro não são colegiadas e sim concentradas em uma única pessoa que as define ao bel prazer, não se perpetuaria mesmo que Silvio Santos vivesse até os 200 anos. E Silvio, que sempre enxergou muito à frente de seu tempo, sabe disso.

João Gabriel Batista é publicitário, com pós-graduação em Marketing and Sales na Escola de Negócios Saint Paul e MBA em Gestão Empresarial pela FGV. Tem 29 anos e atua com marketing há 11, com passagens por veículos de comunicação, como emissora de TV, rádio e jornal, e multinacionais do segmento de telecom. É analista especial de mercado e negócios no TV Pop, fazendo participações sempre que necessário. Converse com ele por e-mail em [email protected]. Leia aqui o histórico do colunista no site e conheça o seu perfil no Linkedin.

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