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Daft Punk vai deixar bem mais que saudades, mas sim um grande legado

Daft Punk chegou ao fim depois de 28 anos (foto: Divulgação)
Daft Punk chegou ao fim depois de 28 anos (foto: Divulgação)

Poucos artistas conseguem ter uma carreira brilhante, marcada por grandes músicas e uma busca por crescimento profissional a cada lançamento. Diga-se de passagem, a probabilidade vai ficando menor com o passar dos anos, mesmo que a nova leva de cantores e cantoras seja incrivelmente bem acompanhada de boas músicas, bons looks, boa produção, boa oratória, entre outras coisas. Existem certos riscos que só quem tem muita visão artística é capaz de correr e isso por motivos que jamais serão compreendidos. São esses riscos que determinam até onde aquele artista quer chegar, se ele vai ser conhecido por ter hits bacanas que tocavam há 10 anos em qualquer festa ou se a música de modo geral foi impactada pelo seu trabalho. O fim do duo francês Daft Punk é um desses poucos exemplos do que é ser bem-sucedido no mundo da música.

Afortunadamente, o Daft Punk anunciou o término de sua atividade na última segunda-feira, 22. Durante seus quase 28 anos de trabalho, a dupla passou por diversas fases, trabalhou com diversos artistas, definiu os rumos e criou tendências da música eletrônica, sendo determinantes para a incursão da EDM na música pop. O universo criado por eles, por si só, já era inovador.

Artistas excêntricos sempre existiram, mas nem sempre existia a sensação de vanguarda. O Daft Punk apresentou um mundo imaginário feito de ficção científica, dança e boas vibrações, algo que ultrapassava a nossa audição e atiçava quase todos nossos sentidos. As investidas audiovisuais da dupla previam como os videoclipes eram bem mais do que uma grande divulgação ou complemento para a música, e sim um experimento completo do que é a música.

Esse experimento é algo que hoje é mais comum do que pensamos e até ganhou uma denominação: álbum visual. O álbum “Discovery”, segundo da carreira do Daft Punk, ganhou a companhia do filme “Interstella 5555”, que contava uma história de ficção científica envolvendo um grupo pop intergaláctico através das músicas do CD, feito em forma de anime japonês. Tudo em torno da dupla respirava novos ares.

Desde o visual com capacetes como se fossem robôs até o passeio por eras da música com uso de sintetizadores e até de auto-tune para trazer charme e a sensação de modernidade que se espera de um mundo sci-fi. Marcas que foram reforçadas com o tempo e fizeram o duo ter uma longevidade invejável ao lançar seu último álbum em 2013, o “Random Access Memories”. Nesse disco, eles revisitam os anos 70 e 80 com glamour e acabaram por ganhar o prêmio de álbum do ano no Grammy, talvez o mais cobiçado por qualquer artista.

Além disso, o álbum é o início de uma tendência que acabou por se confirmar alguns anos depois capaz de resgatar a relevância da música pop e salvar até carreiras, com a influência de disco e funk, tal qual Dua Lipa apresentou em seu último álbum, “Future Nostalgia”.

Falando em carreira, impossível não citar a parceria bem-sucedida entre a dupla e The Weeknd nas brilhantes “Starboy” e “I Feel It Coming”. Naquele ponto, era tudo que o cantor canadense precisava para demonstrar versatilidade, como se não fosse capaz de entregar nada além do óbvio. Isso redefiniu a carreira de Abel e o colocou no patamar que temos hoje, muito além dos hits, mas dono da genialidade, em mais uma semelhança com o Daft Punk. Genialidade é uma virtude a ser admirada, reconhecida e causa de inspiração.

Por quase três décadas, foi isso que o Daft Punk serviu e está entregue à humanidade como sua contribuição para a arte e que sirva de referência e reverência como várias outras lendas da músicas que passaram por aqui, one more time.

Gabriel Bueno é publicitário de formação, atua no mercado desde 2013 nas áreas de criação, mídia e produção. Viciado em acompanhar música, sempre disposto a comentar premiações, álbuns, videoclipes e tudo que envolve o meio musical. É o autor da coluna Decifrando, publicada no TV Pop nas manhãs de quarta-feira. Siga o colunista no Twitter: @GabrielGBueno_. Leia aqui o histórico do colunista no site.

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