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CRÍTICA

Batman (2022): Vingança é um prato que se come quente

Batman (2022) é diferente e entretém da sua forma. (Imagem: Reprodução/Warner Bros. Pictures)

Gotham. Uma cidade corrupta. Uma cidade sombria. Uma cidade degradada. Há bastante história nas 3 horas do novo Batman de Matt Reeves: investigação, ação, noir, quiçá um thriller psicológico levemente dosado de terror. Para as autoridades, o ano 2 de Batman como “A Vingança” ainda traz muitas dúvidas sobre a índole e modus operandi do morcego perante a segurança pública da cidade.

Antes de qualquer coisa, destorça o nariz para Robert Pattinson. É o melhor Batman e o melhor Bruce Wayne que já vi desde Christian Bale, da trilogia Cavaleiro das Trevas de Christopher Nolan. Felizmente, nesse novo longa, nada de repetições da história de origem do personagem, e sim questionamentos. O que aconteceu, afinal, com Thomas e Martha Wayne? Quais as motivações do verdadeiro Bruce Wayne em torno da sua origem? É com isso que o filme brinca. Pattinson não se esforça para trazer a tradicional voz carregada do personagem, mas se destaca na atuação, nas feições céticas, nos longos olhares estáticos de um característico observador procurando respostas. Afinal, no fundo, ele é um detetive.

Robert Pattinson como Batman. (Imagem: Reprodução/Warner Bros. Pictures)

Batman trabalha ao lado de Jim Gordon (Jeffrey Wright) que deve ser o único policial que deposita sua confiança na forma não-ortodoxa de trabalhar do vigilante. Outros policiais sempre questionam por que o morcego mexe em evidências e atrapalha os peritos o tempo todo. Essa confiança gera uma situação com mafiosos, corruptos e um assassino em série que segue sua próprias crenças, mas que demonstra fragilidade com o passar do tempo. Além disso, a inóspita companhia da Mulher-Gato (Zoë Kravitz) usa-se da mesma sede de vingança do protagonista para fazer com que o homem-que-trabalha-sozinho encontre um caminho. Selina Kyle não hesita em mostrar suas ambições e questionar a riqueza de alguns olhando nos olhos do multimilionário morcego, que hesita, mas não desfaz o contato visual e traz ao espectador a reflexão sobre um herói rico fazendo o que seria justiça com as próprias mãos.

Questionamentos são o cerne da história, já que a missão de Batman e Gordon é desvendar Charada (Paul Dano). Charada é perturbado, mas tem suas motivações e usa-as como ferramenta para desvendar todo um esquema político em Gotham City através de críticas sociais… questionáveis. O que ele não contava é que, diferentemente do Batman de Christopher Nolan, aqui temos um Batman inteligente e uma Mulher-Gato determinada e extremamente perspicaz. Há um perceptível desafio de adaptar a releitura sádica do Charada do jogo dos pontinhos do Silvio Santos, que já teve seu dia de super-herois no SBT. Mas nisso, a adaptação de Marina Fragano Baird para as legendas em português do filme tira as charadas de letra na medida do possível. Já a crítica vai pra adaptação dos elementos da tela da versão nacional pela Warner, que fez o trabalho pela metade. “Justiça” seja feita, o que foi adaptado ficou muito bom.

A trilha sonora de Michael Giacchino é muito marcante e é a cereja do bolo do longa; o trailer dá um gostinho do tema principal que sempre precede cenas épicas e fica preso na mente. Há canções emblemáticas, como o tradicional cântico sacro “Ave Maria”, que recebe e despede o telespectador de formas diferentes.

As cenas do longa são sombrias, mas coerentes, não remetendo nada à sombriedade exageradamente desnecessária de Zack Snyder, por exemplo. O objetivo aqui é usar o escuro como ferramenta de medo — mostrar que andar a noite em Gotham não é algo que devíamos fazer. Há uma cena escura que aparece em um dos trailers (acima) onde Batman luta contra caras num escuro total onde a iluminação da cena são as armas disparando. Que cena linda. Outra bela sequência é a perseguição do Pinguim (Colin Farrell) que traz uma pegada Mad Max extremamente bem executada.

O “novo” Batmóvel. (Imagem: Reprodução/Warner Bros. Pictures)

Falando em perseguição, é engraçado como todo diretor de um filme do Batman quer fazer a sua própria versão do principal veículo do herói, o Batmóvel. A nova versão, que teve uma clara inspiração em Christine, o Carro Assassino, aproveitou a belíssima estética dos muscle cars americanos, tendo influencia direta de Matt Reeves em sua composição. Reeves, aliás, teve seu dia de Zack Snyder e também tentou empurrar um filme de 4 horas de duração, como o Snydercut de Liga da Justiça, que, claro, sofreu uma rejeição da Warner seguido de um singelo pedido para cortar algumas cenas do longa.

Batman é mais um filme da DC que se aproveita de não estar vinculado ao Universo Estendido DC. Embora não seja justo comparar aos filmes anteriores, uma vez que este Batman é completamente diferente de tudo que já vimos, Matt Reeves criou algo único e tem nas mãos uma franquia que tem potencial para entregar ótimos resultados.

Batman (2022) estará em cartaz nos cinemas em 3 de março, com pré-estreias já disponíveis.

Caio Alexandre é entusiasta de cinema, exibição, animes e cultura pop em geral. Escreve desde 2008 sobre os mais variados assuntos, mas sempre assumiu a preferência pelo cinema e sua tecnologia embarcada. Autor convidado do TV Pop, fala sobre tudo que é tendência no universo da cultura pop. Converse com ele pelo Twitter, em @caioalexandre, ou envie um e-mail para [email protected]. Leia aqui o histórico do autor no site.

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