Pesquisar
Pesquisar
Close this search box.

Mesmo com o streaming, conteúdos legendados seguem escanteados

Falta de conteúdos legendados em português nos serviços de streaming ainda incomoda (foto: Reprodução)
Falta de conteúdos legendados em português nos serviços de streaming ainda incomoda (foto: Reprodução)

O que os cinemas e a maior parte dos canais da TV por assinatura tem em comum? A imensa maioria deles oferecem a esmagadora parte dos conteúdos dublados, enquanto os legendados são jogados para escanteio. A movimentação do mercado audiovisual é baseada até hoje em uma pesquisa de 2008 do Datafolha, em que 52% dos entrevistados afirmaram preferir conteúdos falados no nosso idioma. Com isso, houve uma explosão de salas de cinema dubladas no país, enquanto os legendados passaram a ser escanteados para locais com maior poder aquisitivo.

Pouco tempo depois, a TV por assinatura entrou na mesma onda. Praticamente todos os canais começaram a exibir seus conteúdos dublados e sem opções para os clientes, fato que deu origem ao movimento #DubladoSemOpçãoNão, já que as opções de troca de áudio e legenda eletrônica eram pouco utilizadas pelas programadoras dos canais. Em 2021, a situação mudou e muitas das emissoras já disponibilizam as opções sem maiores transtornos, mas ainda existem várias exceções, como a MTV Brasil.

Com a chegada da Netflix e de outros serviços de streaming, a escolha parecia ter sido mais democratizada. Com um simples clique, trocar um idioma virou algo simples e prático. Mas, aparentemente, a chegada de rivais, fez com que algumas das plataformas regredissem. Quanto a ela e ao Amazon Prime Video, não há muito que fazer. Excetuando os seus conteúdos originais, sempre publicados com áudio e legenda em diversos idiomas, são várias as produtoras de conteúdo que enviam seus filmes e séries muitas vezes apenas em um só idioma e com poucas legendas.

No caso do Disney+ e do Paramount+, não é absurdo dizer que há uma pitada de má vontade em não fornecer opções para os assinantes. As duas são donas de seus próprios serviços e, consequentemente, donas de tudo que está em seus catálogos. Causa espanto em ambas o descaso em produções como Baby Daddy, Fresh off The Boat e For Life, que foram disponibilizadas apenas em versão dublada. A última, vendida como um original Paramount, sequer disponibiliza legendas em inglês. Até o musical Hamilton, do Disney+, passou meses sem ter legendas em português.

O descaso das produtoras também acontece em seus canais na TV paga. Não é raro ver em alguma das emissoras da Disney o filme High School Musical 3 sendo transmitido com uma definição digna dos primórdios do YouTube, só para a empresa não ter que legendar novamente o longa. Nos canais programados pela Viacom, o descalabro é semelhante. Quer assistir algum reality importado da MTV em seu idioma original? É melhor esperar sentado ou apelar para algum serviço pouco isento, já que se depender da empresa da Paramount…

Independentemente do gosto do leitor, temos que pensar num caso ainda superior: a acessibilidade. Tenho em meu círculo de convivência uma pessoa com problemas de audição e que estava tendo problemas até mesmo com seu aparelho auditivo. Em um sistema com conteúdos apenas dublados, ele ficaria sem entender nada.

O Globoplay, mesmo com o conteúdo majoritariamente produzido em língua portuguesa, é um dos serviços de streaming que mais tem se preocupado com a acessibilidade. Quando a plataforma lançou o especial Sandy & Junior, vários clientes pediram para que a plataforma disponibilizasse legendas em português, de forma que pessoas com deficiência auditiva e dificuldade intelectual pudessem assistir ao conteúdo de forma mais tranquila.

Desde então, todos os conteúdos do serviço são adicionados com legendas, que só não estão presentes em conteúdos mais antigos, como as novelas que o serviço resgata quinzenalmente e as atrações dos Canais Globo. Um exemplo é a novela A Vida da Gente, esquecida em sua versão original, mas com legendas nos capítulos gravados da edição especial que está no ar na TV Globo por conta da crise sanitária.

Mateus Ribeiro é engenheiro por formação, e nas horas vagas se diverte maratonando séries e assistindo programas de origem duvidosa da televisão brasileira. No TV Pop, escreve semanalmente sobre as séries produzidas pela indústria norte-americana. Converse com ele pelo Twitter @omateusribeiro. Leia aqui o histórico do colunista no site.

Leia mais