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Lorde irradia sua energia solar e define os caminhos da cultura mundial

Lorde já se firmou como um dos principais nomes da indústria musical (foto: Reprodução)
Lorde já se firmou como um dos principais nomes da indústria musical (foto: Reprodução)

Muitas carreiras nascem com diversas motivações e com estratégias das mais diversas. É fácil reconhecer algumas das marcas de diversos ícones da música, passando pelo estilo de músicas que os popularizam, o visual excêntrico ou suas performances vocais e de dança em cima de um palco. Com o tempo, essas características passaram a ser quase que fundamentais para artistas pop e sempre são relembradas ou revisitadas por eles mesmos, para que o público consiga assimilar de maneira fácil de quem se trata. É algo que teve um bom começo, mas passou a servir mais como arma em guerra de fandoms, como se o principal não fosse os respectivos talentos de seus ídolos.

Na última década, nós vimos a música pop ser totalmente reformulada, abraçar novos artistas, se abrir para novas plataformas e, principalmente, extinguir certas regras porque o público não vê tanto sentido nelas. Talvez o ponto de partida veio de uma cantora neozelandesa, ainda com 16 anos, ultrapassando todas as bolhas ao cantar, do seu ponto de vista como adolescente, como era deprimente a cultura tratar a riqueza, o luxo e o sexo como objetivos da vida adulta.

Bom, esse é um ponto muito particular e realmente não é unanimidade para todos os adolescentes. Talvez a cultura, de forma geral, sempre tenha subestimado a inteligência do público teen ao criar produtos que não seja um retrato de suas vidas, quase servindo como um censor que busca infantilizar os jovens até alcançarem a maioridade, como se o destino não fosse se encarregar de os tornarem responsáveis com o tempo, fosse com os estudos, trabalhos ou a rotina familiar.

Lorde alcançou o estrelato criticando a cultura mainstream, que, involuntariamente, a abraçaria somente pelos números que conseguiu alcançar. Mas, de uma forma (muito) positiva, o mainstream de 2013 é totalmente diferente do mainstream de 2021. Não só pelo conteúdo, mas também pela interpretação que é possível fazer deste. O hip-hop conseguiu ampliar vozes femininas nos últimos anos e de forma simultânea, com um trabalho análogo ao que artistas masculinos do mesmo gênero sempre fizeram ao exibir ostentação e objetificação de mulheres, mas de outro ponto de vista.

Essa contribuição não atingiu somente a música, mas realmente a cultura de forma geral. Lorde influenciou e continua influenciando vários de alguns dos grandes novos nomes que surgiram na música nos últimos anos como Billie Eilish e Olivia Rodrigo. Além disso, novas narrativas audiovisuais da adolescência se tornaram sucessos mundo afora como a série Euphoria e o filme Lady Bird, em que os romances e vilanias não são absolutamente os focos de seus personagens.

E com tudo isso, Lorde ainda tem a capacidade de se tornar extremamente versátil e, a caminho de seu terceiro álbum, consegue ter trabalhos distintos em diversos aspectos, mas com a sua impressão. De um álbum de estreia aos 16 anos e composições mais generalizadas, ela partiu para um segundo álbum basicamente em 1ª pessoa e experimentando uma imagem diferente da adolescente durona.

Agora, em Solar Power, o que comanda é a vibe de simplesmente sentir o sol ao lado de quem você gosta à beira da praia. O que mantém toda sua obra em sintonia é que os sentimentos sempre estão presentes, com as rimas mais inteligentes que você poderia pensar em fazer, as menos previsíveis também. O jeito de Lorde fazer música é sentindo o som, refletindo o que está vivendo e o peso de ser uma jovem adulta conhecendo o mundo a seu redor. Isso é libertador, revolucionário e inspirador.

Gabriel Bueno é publicitário de formação, atua no mercado desde 2013 nas áreas de criação, mídia e produção. Viciado em acompanhar música, sempre disposto a comentar premiações, álbuns, videoclipes e tudo que envolve o meio musical. É o autor da coluna Decifrando, publicada no TV Pop sempre nas quartas. Siga o colunista no Twitter: @GabrielGBueno_. Leia aqui o histórico do colunista no site.

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