William Bonner se despediu do comando do Jornal Nacional nesta sexta-feira (31), após 29 anos à frente do principal telejornal da Globo. Horas antes de sua última apresentação, ele e César Tralli, que assume oficialmente a bancada, concederam uma entrevista ao jornal O Globo. Os dois refletiram sobre os rumos do jornalismo em tempos de redes sociais e defenderam o papel institucional do JN na formação da opinião pública.
César Tralli destacou as diferenças entre os telejornais que apresentou ao longo da carreira e reforçou que o Jornal Nacional exige uma postura mais institucional. “O Jornal Hoje, que eu fazia até ontem, era diferente. Era um jornal muito maior, com um único apresentador, na hora do almoço, que abria espaço para você trazer assuntos, digamos assim, do cotidiano com muito mais facilidade, com uma linguagem mais coloquial, mais falada”, afirmou o jornalista, reforçando que manterá o legado deixado por Bonner.
“Antes, eu fiz o SP1, que é o telejornal da Grande São Paulo. Eu fazia alguns comentários muito pela conexão com o público. Eu levei um pouco disso para o Jornal Hoje. Mas eu entendo que o Jornal Nacional é completamente diferente. Para mim, a gente vai seguir firme nesse legado de JN do William, que é um jornal que representa a empresa, é a voz da empresa”, sinalizou o novo âncora do Jornal Nacional.
William Bonner descreveu o Jornal Nacional como uma instituição que transcende os interesses da emissora. “No exercício de quase 26 anos de chefia, eu nunca vi os acionistas da empresa agirem como donos do Jornal Nacional. O JN, pela força que tem, por aquilo que representa, é algo tão forte que eu tenho a impressão de que os próprios acionistas da Globo entendem que ele seja um patrimônio dos brasileiros, do público brasileiro”, pontuou.
O âncora mais longevo do formato também explicou o motivo pelo qual o telejornal evita comentários opinativos. Para ele, esse tipo de intervenção compromete a isenção jornalística e não condiz com o perfil do noticiário. “O comentário é uma armadilha num jornal desse porte. Como escolher quais assuntos você vai comentar e quais não vai? Imagina se a gente fizesse no Jornal Nacional comentários sobre a operação policial desta semana”, afirmou.


