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CHAMA O GERALDO LUÍS

Por audiência, Globo transforma jornal local em clone do Domingo Show

Pedro Lins no estúdio do NE1, da Globo
Pedro Lins virou o Geraldo Luís pernambucano no NE1 (foto: Reprodução/TV Globo)

A crise de audiência do NE1 provocou mudanças na linha editorial do telejornal transmitido pela Globo de Recife na hora do almoço. Há várias semanas, em uma tentativa de conter o avanço das afiliadas da Record e do SBT na faixa horária, o jornalístico passou a destinar boa parte de seu espaço para a transmissão de pautas assistencialistas. Não é raro, por exemplo, que a emissora faça repórteres perguntarem se populares estão passando fome. Na quinta-feira (9), 23% do noticioso foi ocupado com a história de um sopão para “moradores que estão sem ter comida em casa”.

O formato que mais lembra o Domingo Show do que um telejornal da Globo tem virado uma figurinha frequente em Recife. Um levantamento obtido pela reportagem do TV Pop aponta que das nove edições exibidas em dezembro até a publicação deste texto, oito tiveram boa parte de sua duração destinada para conteúdos que deixariam Geraldo Luís orgulhoso. No primeiro dia do mês, 42% da duração do jornalístico foi ocupada com apenas duas pautas: a dificuldade de moradores em agendar consultas médicas durou 15 minutos, enquanto uma reportagem sobre Pernambuco ter a pior taxa de desemprego do país ficou no ar por 10 minutos — ambas as matérias representam uma infinidade de tempo para os padrões televisivos.

A situação não foi muito diferente nos outros dias deste mês. Na quinta-feira (2), o NE1 destinou 12 minutos para a história da distribuição de marmitas para moradores de comunidades carentes, com direito ao choro de populares durante uma entrada ao vivo. Outros 15 minutos do telejornal foram preenchidos com uma denúncia, que mais parecia ter sido editada pela equipe do Domingo Espetacular, sobre a abertura de uma licitação para que vereadores pudessem comprar uma caneta avaliada em R$ 180.

No dia seguinte, o assistencialismo foi dividido em três extensas reportagens. A mais longa delas, com oito minutos, era de uma história de superação e mostrava a história de barbearias de Recife que decidiram investir em cortes personalizados. Com um minuto a menos, a emissora voltou a explorar o drama da fome: as marmitas da véspera deram lugar para a distribuição de cestas básicas e, para encerrar a tríade do Domingo Show, uma entrada de cinco minutos sobre a dificuldade da população com o Sistema Único de Saúde, revisitando o conteúdo do primeiro dia de dezembro.

De segunda-feira (6) pra cá, a preferência incontestável da Globo tem sido pela exploração do drama de quem não tem o que comer. No primeiro dia da semana, cinco minutos do telejornal foram ocupados mais uma vez com uma distribuição de cestas básicas, que voltaram a ser assunto também na terça-feira (8), juntamente com a história de voluntários que se uniram para doar refeições para moradores da periferia da capital pernambucana — tudo embalado com a sugestiva tarja “dias difíceis”.

Ontem, 14 minutos do jornalístico foram preenchidos com uma entrada ao vivo sobre a distribuição de um sopão em Peixinhos, bairro de Olinda, na região metropolitana de Recife. Acostumada a evitar a exploração de dramas populares, a emissora não se esquivou da transmissão do drama alheio, com closes indiscretos em pessoas chorando e na filmagem de menores de idade finalmente tendo algo para comer. No estúdio, o apresentador Pedro Lins parece ter encarnado Geraldo Luís, com questionamentos genéricos, perguntando “onde está o poder público”. O repórter, por sua vez, também apostava em frases de efeito. “Queria encerrar com uma notícia boa sobre a distribuição de cestas [básicas], mas isso infelizmente não existe”, sentenciou Danilo César.

A apelação, no entanto, ainda não conseguiu reverter as audiências ruins do NE1. Ele continua sofrendo com a aproximação do Por Aqui, do SBT, e do Balanço Geral, da Record, que não raramente conseguem ser líderes de audiência na totalidade de suas faixas — ambos são mais longos do que o jornalístico regional e concorrem também com outros programas, como o Globo Esporte, Jornal Hoje e a novela O Cravo e a Rosa.

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