O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) protocolou um pedido oficial na Justiça de Alagoas solicitando a decretação de falência da TV Gazeta. A emissora, que pertence ao ex-presidente Fernando Collor de Mello, é acusada de descumprir os termos de seu plano de recuperação judicial. A instituição financeira aponta que a empresa de comunicação deixou de quitar obrigações financeiras previstas no acordo que está em vigor desde 2019.
A informação foi divulgada pela coluna Outro Canal, do jornal Folha de S.Paulo. Segundo os documentos apresentados à 10ª Vara do Tribunal de Justiça local, a TV Gazeta não pagou uma parcela no valor de R$ 14,5 mil. O montante deveria ter sido liquidado no último dia 25 de novembro. O banco afirma que enviou o boleto corretamente para o setor financeiro, mas não identificou o pagamento até o início desta semana.
Diante do calote, a Justiça intimou a empresa de comunicação a prestar esclarecimentos imediatos sobre a inadimplência. Caso a emissora não efetue o depósito ou não apresente uma justificativa plausível para o atraso no prazo de 15 dias úteis, o BNDES solicitará a homologação judicial da falência. O argumento central é a falta de cumprimento do plano de reestruturação acordado com os credores para manter a operação ativa.
Nos bastidores, a defesa da TV Gazeta argumenta que a situação financeira se tornou insustentável após o rompimento com a Globo. A perda de receita decorrente da desfiliação teria impedido a realização dos pagamentos previstos. A emissora chegou a negociar uma parceria com a Band para preencher a grade, mas desistiu da assinatura do contrato na última hora e segue operando com uma programação independente e local.
Há também um componente político envolvendo o histórico de dívidas do canal com o banco estatal. Durante o governo de Jair Bolsonaro (2019-2022), fontes indicam que a TV Gazeta teria sido beneficiada com o perdão de uma dívida de R$ 10 milhões. A operação teria ocorrido a pedido de aliados do então presidente para auxiliar Collor, que era um apoiador da gestão federal na época.
Relembre a saída da TV Gazeta da Globo
A crise da emissora alagoana se agravou definitivamente em outubro deste ano, quando a Globo cortou o sinal de retransmissão após uma longa batalha judicial. A parceria, que existia desde 1975, foi encerrada devido a escândalos de corrupção. Investigações apontaram que Fernando Collor teria utilizado a estrutura da afiliada para receber propina, o que motivou a rede carioca a buscar o fim do contrato de afiliação.
A Globo alegou nos tribunais que a manutenção do vínculo era inviável diante das dívidas gigantescas e dos problemas reputacionais da parceira. A TV Gazeta tentou reverter a decisão, argumentando que sem o aporte da líder de audiência não conseguiria honrar sua recuperação judicial. No entanto, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu a favor da emissora da família Marinho, permitindo a mudança do sinal.
Com a decisão favorável, a Globo transferiu suas operações no estado para o Grupo Asa Branca de Comunicação. A nova parceira, dona da TV Asa Branca, já atuava com a rede no interior de Pernambuco e assumiu a retransmissão em Alagoas imediatamente. Desde o ano passado, a empresa já operava localmente retransmitindo o Canal Futura, preparando o terreno para assumir o posto de afiliada principal.


