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VIOLÊNCIA

Equipe da Globo é ameaçada durante protesto de policiais em Minas Gerais

Imagem com foto do repórter André Junqueira
O repórter André Junqueira; equipe da Globo de Minas Gerais foi ameaçada e perseguida por agentes de segurança que faziam manifestação (foto: Reprodução)

Uma equipe da Globo de Belo Horizonte que se preparava para cobrir a manifestação das forças de segurança por reajuste salarial em Minas Gerais sofreu diversas ameaças e intimidações na última segunda-feira (21). Em vídeo publicado nas redes sociais, o jornalista André Junqueira e o repórter cinematográfico da líder de audiência aparecem sendo ofendidos pelos manifestantes. Os agentes que protestaram nas ruas da capital mineira tiveram autorização inclusive do comando da Polícia Militar para participação de profissionais da ativa.

“Sai daqui filho da p***”, “Filma o [governador Romeu] Zema lá”, “Vai filmar a casa do c******”, foram alguns dos insultos presentes na filmagem de pouco mais de um minuto publicado no Twitter pelo jornalista Afonso Borges (assista no fim do texto). Em um momento, o jornalista André Junqueira se vira para um manifestante que estava gravando a cena e pede: “Não deixa acontecer isso não, vocês são policiais”. “Aqui é manifestação de polícia, não tem bandido no nosso meio não”, disse uma mulher antes de outra pessoa começar a falar.

Um homem questionou ao repórter o que a equipe da Globo estava fazendo no local. Antes de o jornalista terminar de responder que estava cobrindo a manifestação, ele já responde com grosseria: “Não, não. Não veio cobrir nada não. Processa todo mundo então que está fazendo isso. Nós também estamos trabalhando”, diz o agente de segurança que estava na manifestação. “Nós é que damos a segurança para vocês. Na hora que você sofre um acidente, nós que vamos resgatar você”, disse outro enquanto Junqueira era filmado.

No vídeo que repercutiu na internet, uma pessoa pergunta novamente o que a equipe da líder de audiência foi fazer na manifestação. No entanto, por causa de uma sobreposição de vozes na gravação, não é possível identificar quem responde: “Fazer merd*. A Globo só faz merd*. A Globo só faz merd*. Se não fosse manipuladora, não teria nada disso. Aqui não. Fora, fora, fora”, diz um homem aos berros em direção à equipe de reportagem da Globo Minas. No Brasil, é proibido por lei greve de militares e demais agentes de segurança pública.

A Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) e o SJPMG (Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais) divulgaram uma nota de apoio e manifestaram repúdio “às violências verbais e ameaças praticadas por policiais militares e civis e por bombeiros contra uma equipe da Rede Globo, durante manifestação das categorias”. “As entidades prestam solidariedade ao jornalista e ao repórter cinematográfico, que tentavam cobrir a manifestação quando foram ofendidos, ameaçados e perseguidos, até serem expulsos por um grupo de manifestantes. É necessário que as autoridades tomem providências para garantir a liberdade de imprensa”, finaliza o texto.

Leia na íntegra a nota de repúdio contra as agressões sofridas pelos jornalistas da Globo em Minas Gerais:

A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG) vêm a público manifestar seu repúdio às violências verbais e ameaças praticadas por policiais militares e civis e por bombeiros contra uma equipe da Rede Globo, durante manifestação das categorias na tarde de hoje, segunda-feira, 21, em Belo Horizonte.

As entidades prestam solidariedade ao jornalista e ao repórter cinematográfico, que tentavam cobrir a manifestação quando foram ofendidos, ameaçados e perseguidos, até serem expulsos por um grupo de manifestantes. É necessário que as autoridades tomem providências para garantir a liberdade de imprensa.

O cerceamento ao trabalho de equipes jornalísticas, bem como as agressões a trabalhadores da notícia, aumentaram exponencialmente nos últimos anos, principalmente com a chegada de Jair Bolsonaro à Presidência, em 2018. Propagador de notícias falsas, o presidente busca não só desqualificar o trabalho da imprensa, como também ofende verbalmente jornalistas e incentiva agressões contra a categoria.

O Relatório Anual da Fenaj que mede o índice de violência contra jornalistas e contra a liberdade da imprensa no Brasil aponta que, em 2021, Bolsonaro seguiu como o maior responsável por ataques, com 147 casos (34,19% do total), sendo 129 episódios de descredibilização da imprensa (98,47% da categoria) e 18 de agressões verbais a jornalistas.

Cabe ressaltar que a reivindicação por reposição salarial é um direito de todos os trabalhadores, sejam da segurança pública, da educação, da imprensa, da saúde. E é papel do jornalismo apurar e noticiar tais manifestações, para informar a sociedade.

Assim, não é surpresa que justo no protesto de policiais e bombeiros, categorias que compõem boa parte do eleitorado de Bolsonaro, a violência contra jornalistas seja reproduzida, como sempre ocorreu em manifestações favoráveis ao presidente. E a maior contradição está no fato de tais categorias apoiarem um presidente e um governador, Romeu Zema (Novo), que mais retiraram direitos da classe trabalhadora. O governador de MG, por exemplo, não paga o piso salarial dos professores do Estado.

O SJPMG e a Fenaj reforçam que não se calarão diante das violências e restrições ao trabalho da imprensa, pois elas configuram uma das mais sérias ameaças à democracia. Jornalistas de Minas e do Brasil exigem respeito ao seu trabalho, à Constituição, à liberdade de imprensa e ao livre exercício profissional dos jornalistas.

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