O SBT realmente irá interromper sua produção de novelas nacionais. Com o fracasso de A Caverna Encantada, firmada como o maior fracasso de audiência e faturamento do gênero na emissora em mais de uma década, a rede voltará a focar em enlatados na sua faixa de folhetins do horário nobre a partir do segundo semestre. Isso, porém, não é uma novidade. O fato novo é de que os trabalhos no departamento de teledramaturgia do canal não devem ser retomados tão cedo — e uma ala dos executivos da empresa diz que a área sequer deve voltar a funcionar algum dia.
O TV Pop apurou que o SBT demitiu uma parcela considerável dos colaboradores do setor de teledramaturgia nos últimos dias. Desde a última segunda, 2 de junho, pelo menos 50 funcionários diretamente ligados ao departamento — incluindo profissionais que atuavam em áreas do chão de fábrica, como na produção de cenários e na parte operacional — perderam seus empregos. Os cortes, por sinal, ainda não terminaram: alguns colaboradores seguem contratados apenas por conta de um especial de natal de A Caverna Encantada, e devem ser desligados em breve.
Internamente, comenta-se que o número de funcionários demitidos já é consideravelmente maior que os 50 citados internamente pela cúpula da emissora como “uma projeção conservadora” — a rádio peão assegura que ao menos 70 colaboradores já foram desligados desde o início da semana. O canal, porém, não fala oficialmente sobre o número de dispensados, algo corriqueiro em um processo de reestruturação. Nenhuma rede de televisão fala oficialmente sobre o número de desligamentos, especialmente em casos de mudanças radicais em apenas um departamento.
Presidente do SBT e herdeira de Silvio Santos (1930-2024), Daniela Beyruti garantiu na semana passada que o departamento de teledramaturgia não será descontinuado, e afirmou que a rede já estaria preparando uma de suas próximas produções, baseada no roteiro original de uma dorama. A executiva não mentiu: o canal realmente já adquiriu um texto do gênero, mas a novidade só verá a luz do dia se outra empresa tiver interesse em atuar como coprodutora do projeto, retomando o modelo usado em A Infância de Romeu e Julieta (2023), feita com o Prime Video.
O folhetim, responsável por iniciar a decadência de audiência das produções do setor, rendeu R$ 70 milhões aos cofres da emissora apenas considerando os valores da parceria com o serviço de streaming, que havia sido transformado na primeira janela de exibição da trama. O Prime Video tinha interesse em continuar coproduzindo as novelas do SBT, mas a rede recuou: como o acordo determinava que a Amazon teria exclusividade sobre o folhetim na internet, o canal preferiu voltar a bancar suas produções por conta própria, com a disponibilização dos capítulos no YouTube.
A mudança, segundo fontes da reportagem do TV Pop, foi uma ordem direta de Daniela Beyruti. A executiva, que defende que a emissora tem uma missão social com conteúdos infantojuvenis, se incomodou ao descobrir que A Infância de Romeu e Julieta não poderia ser disponibilizada gratuitamente nas plataformas digitais do SBT. Ela apostava que o valor perdido ao não continuar atuando em coprodução com o Prime Video seria compensado em visualizações das tramas no YouTube e no streaming próprio +SBT. Isso, porém, não aconteceu.
A reportagem do TV Pop procurou o SBT para ter um posicionamento oficial sobre as demissões no departamento de teledramaturgia. Em nota, a emissora diz que “o desligamento de alguns colaboradores está inserido em um processo pontual de reestruturação no setor de teledramaturgia, que está iniciando uma nova fase. O setor seguirá ativo e voltado para produção de novos projetos”. No final do comunicado, a rede agradece “a todos que fizeram parte desta caminhada”.


