O futebol americano vem ganhando espaço no Brasil, e um dos nomes por trás dessa transformação é Bruno Sapo. Ex-atleta profissional e educador físico, ele acaba de estrear como comentarista no canal oficial da NFL Brasil no YouTube. O novo programa, Resenha Highlights, é exibido ao vivo todas as quartas-feiras e analisa os principais lances da rodada com uma abordagem técnica, direta e acessível.
Ao longo de seus 12 anos de carreira como jogador, Bruno atuou por clubes como Flamengo, Vasco, Fluminense e pelas seleções carioca e brasileira. Depois de encerrar sua trajetória dentro de campo, em 2016, assumiu o cargo de preparador físico da seleção. A experiência acumulada deu origem ao Treino do Sapo (TDS), uma metodologia de condicionamento baseada nos fundamentos do esporte, voltada para o público geral.
“Não seria o profissional que sou hoje sem ter sido atleta, ter feito treino físico, vivenciado o que estudo”, afirma. “Aprendi três coisas que levarei sempre para a vida: disciplina, rotina e estudo.” Segundo ele, o esporte sempre esteve presente em sua trajetória, o que tornou natural a transição para a função de comentarista. Além do programa no YouTube, Bruno também integra o time de analistas do NFL Gamepass, disponível no serviço de streaming DAZN.
Para ele, sua formação acadêmica e experiência como preparador físico o ajudam a ter uma visão diferenciada do jogo. “Algumas situações do jogo só quem esteve lá dentro sabe como é”, avalia. Com a nova temporada da NFL prestes a começar e o primeiro jogo no Brasil agendado para setembro, o esporte vive uma fase de expansão no país. Bruno acredita que o momento atual é promissor, destacando o retorno do campeonato nacional unificado e a entrada do Flag Football nas Olimpíadas.
No entanto, ele lembra que o futebol americano ainda enfrenta barreiras estruturais por aqui. “O material tem alto custo, o que tende a elitizar o esporte”, analisa. “Os preços dos ingressos não são acessíveis para muita gente e, por muitos anos, os jogos eram exibidos apenas na TV por assinatura.” Ele também aponta a falta de diversidade racial nos bastidores da NFL, apesar da maioria dos atletas ser negra. “Há poucos técnicos principais negros, menos ainda gerentes e quase nenhum dono.”
Bruno também critica o racismo estrutural presente no esporte e destaca que, embora haja movimentações no Brasil, ainda são discretas. “Muitos jogadores se posicionam, principalmente em casos recentes de racismo. Mas talvez falte letramento racial para falar com propriedade”, diz. “Num país preconceituoso como o nosso, é fácil reproduzir falas preconceituosas. O futebol americano também sofre com isso.”
Preto, nerd e gamer, Bruno Sapo tem consciência do espaço que ocupa como comentarista em uma liga global. Para ele, sua visibilidade pode inspirar jovens negros. “Pessoas negras precisam visualizar a personificação dos seus sonhos. Antigamente, não existia estar na frente das câmeras. A gente ligava a TV e só via um tipo de pessoa. Hoje, mesmo em minoria, já dá pra ver mais diversidade. Isso mostra pros adolescentes que é possível.”


