Danieli Haloten, a primeira atriz com deficiência visual a ter um papel de destaque na Globo, denunciou ter sofrido maus-tratos na emissora. A revelação ocorre no momento em que Caras & Bocas (2009), sua única novela, é reprisada no Globoplay Novelas, antigo canal Viva (2010-2025). Ela interpretou Anita, irmã do protagonista Gabriel (Malvino Salvador). O papel foi escrito por Walcyr Carrasco especialmente para a atriz.
Em entrevista recente à revista Caras, Danieli Haloten detalhou o preconceito nos bastidores. Ela afirmou que, embora a maioria dos colegas de cena a recebesse bem, a situação era diferente com a equipe técnica. A atriz também ouvia reclamações sobre a presença de seu cão-guia. “A maioria dos atores me tratava muito bem, mas o pessoal da produção não queria que eu estivesse ali”, desabafou.
A artista especificou a origem dos ataques nos sets de gravação da Globo. “Os maus tratos vinham mais de quem trabalhava nos bastidores: produtores, cabeleireiros e maquiadores. Um ou outro ator me tratava mal, mas a maioria dos atores parecia me aceitar e não ter preconceito”, disse Danieli Haloten. Na trama, sua personagem lutava contra preconceitos para viver um romance com Anselmo (Wagner Santisteban).
Após o fim da novela, em 2010, ela encontrou dificuldades para conseguir novos papéis na televisão. “Sempre me falavam: ‘Mas você já fez personagem cega’, ‘Já teve uma personagem cega na última novela’. Como se isso significasse que eu não poderia interpretar qualquer outro papel”, criticou na mesma entrevista. A falta de oportunidades a frustrou e a fez mudar de carreira.
Danieli Haloten afastou-se da atuação e se formou em Direito. Hoje, aos 45 anos, ela trabalha como servidora pública. A atriz ocupa o cargo de conciliadora do Tribunal Regional do Trabalho de Santa Catarina (TRT-SC). Nas redes sociais, ela produz conteúdo informativo sobre inclusão. Por causa da reprise, ela refletiu sobre o passado.
“É estranho, porque sei que era eu lá. Mas parece que foi em outra vida, outro universo. Aquela Danieli faz parte de mim, mas não sou eu. Hoje, não consigo me ver fora do meio jurídico”, comentou. “A única semelhança entre as duas Danielis é o medo de me esforçar ao máximo para fazer um bom trabalho e não me darem as oportunidades que preciso para crescer na carreira”, finalizou.


