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Spring já negocia transformação da Loading em canal de teleevangelismo

Multiverso era um dos principais programas da Loading: atração deverá ser trocada por telecultos (foto: Divulgação/Loading)
Multiverso era um dos principais programas da Loading: atração deverá ser trocada por telecultos (foto: Divulgação/Loading)

A demissão em massa dos funcionários da Loading foi apenas o primeiro passo para a descaracterização da emissora. Nas próximas semanas, os programas destinados ao público jovem e os animes deverão ser substituídos por atrações produzidas pela Igreja Universal do Reino de Deus. A Spring, empresa dona do canal, tem pressa em fechar negócio para o novo arrendamento de sua concessão de televisão aberta. A Igreja Mundial, do apóstolo Valdemiro Santiago, também corre por fora nas negociações para assumir o espaço — ele já tem seus telecultos veiculados na Ideal, TV do mesmo grupo que é transmitida no sinal analógico das parabólicas.

O desmanche da emissora, anunciado em primeira mão pelo site NaTelinha, surpreendeu os funcionários e os fãs da emissora. No entanto, o encerramento das operações já era discutido pelos acionistas desde meados de abril. No mês passado, conforme antecipado pelo TV Pop, a Igreja Universal chegou perto de arrendar parte da programação para veicular atrações como o Templo Urgente e o Morning Show. O vazamento das negociações, porém, acabou jogando água em um negócio que já estava praticamente fechado.

Desde que entrou no ar, em dezembro de 2020, a Loading teve dificuldades em conseguir patrocinadores. A grade de programas da emissora era inteiramente bancada pela Kalunga, varejista pertencente a dois dos sócios da emissora. A rede de lojas, porém, vive uma grave crise financeira: de acordo com o Valor Econômico, a empresa tem dívidas que ultrapassam a barreira dos R$ 480 milhões e procura um comprador para que possa tentar dar continuidade as suas operações. Diante desse cenário, deixou de fazer sentido investir em uma TV aberta com audiência residual.

Os índices do canal jovem, mesmo que residuais, não eram ruins. Apesar da divulgação ruim e da busca incessante por um público nichado, a emissora chegou a incomodar a RedeTV! em pleno horário nobre. Em seus primeiros 45 dias no ar, ela chegou a se posicionar no quarto lugar de audiência, atrás apenas de Globo, Record e SBT. Além disso, não era raro que alguns programas atingissem picos próximos de 1 ponto, uma marca respeitável para uma rede com tão pouco tempo no ar. Mas isso não foi o suficiente para chamar a atenção do mercado publicitário para o projeto.

Nos bastidores, a leitura da precoce “falência” da Loading é praticamente unanime. A emissora teria sucumbido aos custos de licenciamento de seus desenhos e séries, e a alta do dólar acelerou ainda mais o processo de esvaziamento dos cofres da empresa. Além disso, a emissora sofreu com um fraco departamento comercial. A reportagem ouviu alguns dos agora ex-funcionários do canal que, sob a condição de anonimato, disseram que nunca sequer existiu mais do que um executivo de contas — as poucas parcerias firmadas nos meses no ar eram feitas pelos próprios apresentadores.

Em meio ao cenário de incertezas, o único consenso é de que a tentativa da Kalunga de empreender no mercado de televisão custou caro. Em apenas uma tarde, 60 funcionários foram dispensados: os cortes foram feitos em todos os setores, inclusive na diretoria — o executivo que comunicou a demissão em massa também foi desligado depois de comunicar aos seus colegas que o projeto estava sendo descontinuado. Apenas uma parte da equipe técnica, que irá assegurar a manutenção do canal no ar nos próximos dias, foi mantida.

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