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Curso de Virginia Fonseca fraudou depoimentos para aumentar vendas

Virginia Fonseca no vídeo de lançamento do #EuInfluencer: curso usa artifícios pouco isentos para turbinar vendas (foto: Reprodução)
Virginia Fonseca no vídeo de lançamento do #EuInfluencer: curso usa artifícios pouco isentos para turbinar vendas (foto: Reprodução)

Depois de uma semana de suspense, Virginia Fonseca finalmente lançou seu curso que promete transformar pessoas comuns nos próximos fenômenos da internet. O conteúdo, feito em parceria com uma empresa de empreendimentos comerciais e de desenvolvimento comercial, foi lançado na noite desta quinta-feira (27) e teve direito a uma grande ação de publicidade. Em um vídeo publicado em sua página oficial, a influenciadora fala por mais de 17 minutos dos benefícios que o #EuInfluencer pode trazer para a vida das pessoas. O pacote de aulas ministradas pela mulher de Zé Felipe custa R$ 1216,00, mas foi disponibilizado inicialmente com um desconto de 67%, totalizando R$ 397,00.

Não é uma novidade que influenciadores associem seus nomes e imagens com cursos e produtos duvidosos. Virginia, porém, nunca havia lançado um projeto autoral. A maior influenciadora off-TV do país, com mais de 20 milhões de seguidores em apenas uma rede social, tem uma base de fãs comprovadamente feminina — tanto que o curso lançado pela loira foca justamente em mulheres jovens. Até aí, nada de novo. No entanto, o #EuInfluencer faz uso de formas no mínimo duvidosas para conseguir chamar a atenção de possíveis alunos.

O vídeo publicado anunciando a chegada do curso redirecionava os usuários para o site oficial da plataforma, que foi milimetricamente recheado com conteúdo apelativo e controverso. Em certa parte, o portal questiona qual teria sido a razão para que a influenciadora decidisse contar como fez para o seu perfil crescer. “Quando eu venci a vergonha de gravar o meu primeiro Stories eu percebi que um mundo de possibilidades se abriu pra mim e é exatamente isso que eu vou te ensinar no #EuInfluencer no Instagram”, afirma o site, em uma declaração atribuída a Virginia.

Curso de Virginia Fonseca condena não assinantes ao fracasso (foto: Reprodução)
Curso de Virginia Fonseca condena não assinantes ao fracasso (foto: Reprodução)

Após apresentar o preço da plataforma e a promoção feita para o lançamento das aulas, o portal dá duas opções aos usuários. Para os que decidirem fazer o investimento, o site afirma que o contratante “criará reconhecimento e terá liberdade na internet” e que “nunca mais ficará sem reconhecimento e nem se sentirá desvalorizado pelas marcas”.

Se você não quiser assinar o serviço, o tom otimista adotado pela plataforma até então se torna quase ameaçador, e impõe uma sentença de fracasso para quem decidir tentar a sorte de outras maneiras. “Você pode continuar enfrentando os problemas de poucos seguidores, nenhum comentário nos seus posts e poucas pessoas assistindo ao seu conteúdo e continuar se sentindo mais do mesmo e sem nenhum reconhecimento das pessoas, ficando invisível para as marcas”, diz a página.

Depoimentos falsos para impulsionar vendas

Plataforma de cursos de Virginia Fonseca fraudou depoimentos de internautas (foto: Reprodução)
Plataforma de cursos de Virginia Fonseca fraudou depoimentos de internautas (foto: Reprodução)

Além do discurso controverso, o #EuInfluencer também foi lançado com outra estratégia condenável. O site oficial da plataforma apresenta depoimentos de quatro garotas que teriam mudado suas vidas após o treinamento feito por Virginia Fonseca. No entanto, chama a atenção que ela não convocou, em momento algum, internautas para acesso antecipado ao curso — e a página em questão já foi ativada com as quatro declarações, feitas com riqueza de detalhes e com menções a datas e a acontecimentos futuros.

“Sério… eu quase surtei quando a primeira empresa perguntou no meu direct quanto eu cobrava para fazer uma publicidade, esse foi o meu primeiro contrato de parceria assinado”, diz um dos depoimentos, atribuído a uma compradora chamada Paloma Freitas. Paloma, no entanto, simplesmente não existe. Na verdade, a sua foto pertence a um banco de imagens, e pode ser facilmente encontrada em ferramentas de busca na internet. A tal imagem sequer é uma novidade: uma rápida pesquisa revela que a suposta gaúcha é figurinha carimbada em sites da Rússia.

“Me lembro como se fosse hoje, eu tinha muita vergonha de gravar qualquer coisa, até em fotos eu não queria sair… hoje eu já acordo e dou bom dia para a minha audiência com muita naturalidade”, afirma outro depoimento, dessa vez da autoria de Aline Soares. No entanto, a suposta internauta de Cuiabá, no Mato Grosso, também não existe. A foto de Aline pertence a uma modelo que fez um ensaio fotográfico disponibilizado gratuitamente no site Freepik (clique aqui para ver).

Um terceiro depoimento, atribuído a sergipana Ueide Nunes, diz que “com o método da Virgínia hoje eu programo todos os conteúdos da semana em um único dia”. Assim como as suas demais colegas apresentadas como clientes e cases de sucesso do #EuInfluencer, Ueide simplesmente não existe. A sua foto também foi tirada do Freepik, em que ela é apresentada — em espanhol — como “uma senhorita de calça laranja, com os ombros descobertos e que sorri de forma doce, estando apoiada em uma parede branca e debaixo de uma árvore” (clique aqui para ver a foto original).

Poucas horas depois de Virginia Fonseca ter divulgado o site oficial do curso, ainda na noite de quinta, a equipe da plataforma desativou o site de #EuInfluencer e passou a redirecionar os internautas diretamente para o site de vendas do curso. A reportagem do TV Pop, no entanto, fez questão de armazenar o conteúdo original e disponibiliza neste link (clique aqui para ver) a íntegra do portal original do curso, com todas as declarações duvidosas.

Além disso, apesar do site ter sido momentaneamente tirado do ar, as fotos usadas nos falsos depoimentos também seguiam disponíveis no servidor em que a plataforma de cursos está hospedada até a publicação deste texto. Para ver a foto da suposta Aline Soares, clique aqui. A foto de Ueide Nunes está disponível neste link, enquanto a imagem da suposta Paloma Freitas pode ser vista aqui.

 

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