Alejandro Claveaux, ator da série Rensga Hits!, do Globoplay, afirmou que a representatividade LGBTQIA+ nas novelas brasileiras não evoluiu desde o beijo entre Mateus Solano e Thiago Fragoso em Amor à Vida (2013), exibida na Globo. Em conversa com a coluna Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, o artista apontou que a falta de avanços está ligada a decisões internas da emissora que vetam beijos e tramas com personagens gays.
Bissexual assumido, Alejandro Claveaux interpreta o cantor sertanejo Deivid Cafajeste, que inicia a série escondendo ser gay dos fãs. Ao longo da trama, ele se assume homossexual e enfrenta preconceito. Na terceira temporada, lançada em julho, o personagem vive um trisal com Kevin (Samuel de Assis) e Renan (Marcus Bessa). “Protagonistas gays liderando uma série romântica com final feliz ainda são raros. E em novela, menos ainda. Arrisco a dizer que cada vez menos vemos personagens assim.”
O ator ressaltou que escolhe papéis que abordem sexualidade e identidade de forma direta. “No Rensga, a gente brigava para que nossos beijos tivessem o mesmo tempo de tela dos casais héteros. Beijo, romance, sexo. Tudo. Isso também é amor. E precisa ser normalizado.” Ele afirmou que a luta é diária para que cenas de afeto entre personagens LGBTQIA+ não sejam reduzidas ou cortadas durante a edição.
Alejandro Claveaux também participou do especial Falas de Orgulho, da Globo, e vê contraste entre esse projeto e as restrições nas novelas. “É uma contradição muito louca. Ao mesmo tempo em que estou protagonizando uma série com um trisal gay, participando de um especial sobre orgulho LGBTQIA+, eu não entendo por que isso ainda não é normalizado nas novelas.” Segundo ele, exemplos recentes confirmam que o problema persiste.
Globo continua censurando tramas LGBTQIA+ nas novelas
Na novela Vale Tudo, atualmente exibida no horário nobre da Globo, a cena de pedido de casamento entre o casal lésbico interpretado por Maeve Jinkings e Lorena Lima terminou apenas com um abraço e um beijo na bochecha. Também foi cortado um diálogo sugestivo entre dois personagens masculinos que constava na versão original de 1988. Os cortes reforçam um padrão de censura sobre histórias LGBTQIA+.
Em 2023, a novela Vai na Fé também sofreu edições que retiraram beijos gays e cenas de afeto homossexual por decisão da direção da Globo. “Tem cena de assassinato às 20h, ninguém reclama. Mas beijo gay ainda choca. Cortam, escondem, apagam. É quase um crime. Quem toma as decisões precisa entender isso”, lamentou. O ator disse que a restrição não vem dos profissionais que criam as histórias, mas de quem aprova o que será exibido.
“Roteiristas, diretores e atores, muitos são da comunidade. Mas há algo que paralisa, bloqueia. Falta coragem”, afirmou. Para Alejandro Claveaux, é possível produzir trabalhos de sucesso com temática LGBTQIA+. “Tem muita gente dentro da emissora preocupada com essas pautas. Eu sou a prova de que é possível fazer trabalhos incríveis com essa temática.”


